Cotidiano

Racismo e gordofobia no mercado de trabalho

Redação DM

Publicado em 22 de junho de 2020 às 17:35 | Atualizado há 5 anos

A capacidade social e intelectual de um profissional deveria contar mais do que a aparência, dentro do mercado de trabalho. Histórias de assédio neste ambiente, infelizmente ainda é comum. Mas, além desse crime, acontece também, de forma velada e até escancarada, o racismo e a gordofobia, entre outras violências que causam inúmeras vítimas psicológicas.

Beatriz Helena sofreu preconceito escancarado, em forma de violência verbal, quando tinha 17 anos, ao conseguir um emprego de técnica em eletrônica de celular, para uma empresa em São Paulo, capital. Em seu primeiro dia de trabalho, a frustração tomou conta da jovem. “Além de terem me colocado para fazer a recepção, falaram que eu teria que pagar meu próprio uniforme, porque eles não pagariam o ‘excesso de tecido’ necessário”, lembra.

Em resposta a mudança de cargo, o responsável disse a Beatriz que não tinha gostado da ideia de ter uma menina no laboratório (onde só tinha homens) e, por isso, a recolocação da funcionária. Mesmo assim, ela não aceitou permanecer no emprego depois da grave ofensa.

Portas fechadas

Aquele não foi o único caso de gordofobia que Beatriz sofreu dentro do mercado de trabalho. “Já aconteceu de entrevistadora dizer que talvez não rolasse a vaga porque não tinham cadeiras que me sustentavam. Isso na frente de outros candidatos. Nem esperei a entrevista terminar e fui embora”, conta.

Fora isso, ela lembra que ao trabalhar em uma startup, recebia olhares e comentários ofensivos dos colegas. “Alguns funcionários faziam piadinhas sobre não ter espaço na mesa quando eu estava lá e sobre o lugar já ser bem apertado”, conta. 

Aceitação

Beatriz, que hoje tem 23 anos e é diretora de arte e motion em uma agencia de publicidade, conta que a aceitação do próprio corpo começou na adolescência, período de muitas mudanças e necessidade de confirmação social.

Na época a jovem entendeu que algumas pessoas seriam gordofóbicas, mas não poderia se abalar com os comentários. “Antes eu ficava chateada, hoje eu só fujo desse tipo de ambiente”. 

Todas as adversidades e violências sofridas por Beatriz a deixou “calejada” para lidar com o preconceito. “Eu não reagia, porque acho que não vale a pena. Não é como se a opinião da pessoa fosse mudar. E é como se você se acostumasse”, ressalta. 

Racismo

A diretora de arte também disse ter recebido comentários agressivos por ser, além de gorda, mulher e negra. O preconceito se evidenciou ainda mais, quando Beatriz passou pela mudança capilar, deixando a química para alisar os fios ao assumir o cacheado empoderado.

Durante o processo e depois, com os fios naturais, Beatriz conta que escutava de entrevistadoras que precisaria alisar ou “ajeitar” o cabelo para poder ser a “cara da empresa”, especialmente em vagas onde trabalharia diretamente com o público. Também já pediram para ela se maquiar para “amenizar as olheiras”. “Sempre eram brancos falando para eu melhorar a minha aparência”, diz. 

Ao contar sua trajetória profissional ao IG, até então, Beatriz fez questão de enfatizar uma experiência positiva que teve quando chegou em uma entrevista e viu que a responsável pelo setor de recursos humanos era uma mulher negra. “Eu sabia que nada de errado aconteceria naquela entrevista”. 

“Eu queria que dentro das empresas, o setor do RH tivesse pelo menos uma pessoa preta, porque o tratamento que um branco tem com um negro é totalmente diferente”, pontua. 

Hoje, feliz e respeitada na agência de publicidade onde é diretora de arte e motion, ela ressalta que o ambiente é plural e “ninguém tá nem aí para como você é ou deixa de ser”. 

*Com informações do IG


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