Cotidiano

A presença das mulheres

Diário da Manhã

Publicado em 13 de outubro de 2021 às 14:02 | Atualizado há 4 anos


As efemérides são valiosas oportunidades para os museus, sobretudo os que sobrevivem em condições aquém do ideal, realizarem mostras com obras disponíveis no acervo, pois é quando o espaço se torna palco de celebrações. Até 9 de janeiro do ano vem, com visitações sempre às terças, quartas, quintas, sextas e sábados, das 08h às 12h e das 13h às 17h, exceto sábados, domingos e feriados, cujo funcionamento será das 12h às 17h, o Museu de Arte de Goiânia (MAG) recebe – em comemoração aos 88 anos da capital – a exposição “A Presença das Mulheres no Acervo do MAG”.

Ao todo, 173 mulheres fazem parte do acervo do museu, um dos mais importantes do município a nível de documentação, mas para a mostra foram destacados 88 artistas. Serão seguidos à risca os protocolos sanitários da Organização Mundial da Saúde (OMS), como o uso de máscara, álcool em gel e regulação do número de visitantes por vez, para evitar a disseminação do coronavírus – foram contabilizados, até o fechamento desta reportagem, 219.006 pessoas contaminadas pela covid-19, segundo informe epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde de Goiânia.

Para entender a construção da cena artística em Goiânia e como ela se consolidou, é imprescindível assimilar o valor histórico-cultural que o MAG desempenha desde 20 de outubro de 1970, quando foi criado a partir da lei número 4188, sancionada em 28 de agosto de 1969, tornando-se o primeiro museu público municipal dedicado às artes visuais na região Centro-Oeste. Também, pudera: o espaço, de alguma forma, absorveu parte significativa da produção local desde o início dos anos 1950, e de fato é desse mapeamento que é possível compreendermos a importância da mulher na arte.

Melhor dizendo, a presença das mulheres – para fazer uma inevitável alusão ao nome da exposição que o MAG (bem sacado, aliás) recebe. No que se entende como renovação da linguagem, por meio da experimentação e exploração de novas técnicas, não há como deixar de mencionar as obras de Vanda Pinheiro, com suas composições que se apoiam no mundo difuso do pincél expressivo e espiritualizam o erótico, e Yashira, onde o homem se transforma num recipiente da natureza, como se fosse o canalizador do nosso próprio ecossistema ao estabelecer um ponto entre tudo o que existe.
Nessas duas artistas, sem dúvidas, a vida se renova, se cria e se transmuta pela arte. Não é nenhuma surpresa, portanto, que a ideia para a mostra “A Presença das Mulheres no Acervo do MAG” tenha partido dessa percepção. “É uma das mostras mais significativas já realizadas pelo MAG, em que se buscou mostrar o protagonismo da mulher”, diz Antônio da Mata, diretor do museu, ressaltando que – de modo algum – elas foram coadjuvantes na construção do campo artístico local, fazendo-o avançar em sintonia e criticidade ao inerente processo de modernização da sociedade contemporânea.

Imperdível, pautada em três eixos que agrupam as obras entre pintoras, escultoras e tecelãs, a mostra “A Presença das Mulheres no Acervo do MAG” se privilegiou da ausência de contornos entre linguagens encontradas na produção regional, o que resulta no encontro entre o artístico e o não-artístico, o velho e o novo, o erudito com o popular, o religioso com o pagão. Assim, o que se buscou encontrar na exposição – e creio que isso aconteceu – foi propor um olhar mais acurado do outro sertanejo, em vez da tradicional visão segmentada, comuns às grandes cidades.

Com a “Presença das Mulheres”, Goiânia recebe uma homenagem que há muito merecia, ao mostrar para o público que as artistas tiveram uma importância crucial para a consolidação da cena local das artes visuais. E, bem, cada vez mais é preciso estampar o patriarcado. Isso, com uma curadoria atenta à relevância histórica das artes, a mostra consegue. Sorte nossa.

Sem autonomia
Abrigo dos traços mais marcantes da nossa identidade e um verdadeiro museu da cidade, o MAG figura, hoje, numa situação pouco gloriosa: não possui verba própria, sobrevive basicamente de doações, isto é, não tem autonomia para decidir a respeito de suas aquisições. Mesmo com todas essas incongruências, o espaço conseguiu se consolidar significativamente como tradicional ao absorver obras relevantes de salões, exposições temporárias e, como não poderia deixar de ser, dada sua situação, por meio de doações. “Grande parte desse acervo é de obras sobre papel”, afirma Antônio.

Ele, o papel, mais adequado à ideia de “reprodução técnica da imagem”, democratizou a produção artística, ao dar chance para que nomes badalados no cenário nacional e até mesmo internacional entrassem para o catálogo do acervo. Se lhe falta autonomia, é enorme o papel desempenhado pelo MAG no campo das artes visuais em Goiânia: ele confrontou, por exemplo, a produção regional com a arte que se fazia no Brasil e fora dele. Seu acervo, além de importância indubitável, é um fiel retrato da “goianidade”, pois ali existem obras que preservam nosso mais particular sentimento goiano.



A Presença das Mulheres no acervo do MAG
Quando: até 9 de janeiro
Visitação: às terças, quartas, quintas, sextas e sábados, exceto sábados, domingos e feriados
Horário: das 08h às 12h e das 13h às 17h, cujo funcionamento será das 12h às 177
Onde: Museu de Arte de Goiânia
Endereço: R. 1, 605 – St. Oeste, Goiânia
Gratuita


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