Saúde mental em tempos de pandemia
Redação DM
Publicado em 4 de setembro de 2020 às 18:07 | Atualizado há 5 meses
Candice Rezende Castro e Macedo
A pandemia causada pelo coronavírus é a maior emergência de saúde pública que a comunidade internacional enfrenta em décadas. Além da atenção quanto à saúde física, traz também preocupações quanto ao sofrimento psicológico, que pode ser experienciado pela população geral e pelos profissionais da saúde envolvidos.
Estudos têm sugerido que o medo de ser infectado por um vírus potencialmente fatal, de rápida disseminação, cuja origem, natureza e curso ainda são pouco conhecidos, acaba por afetar o bem-estar psicológico de muitas pessoas. Sintomas de depressão, ansiedade e estresse diante da pandemia têm sido identificados na população geral e, em particular, nos profissionais da saúde.
A rápida disseminação do coronavírus por todo o mundo, as incertezas sobre como controlar a doença e sobre sua gravidade, além da imprevisibilidade acerca do tempo de duração da pandemia e dos seus desdobramentos, caracterizam-se como fatores de risco à saúde mental da população geral. Esse cenário parece agravado também pela difusão de mitos e informações equivocadas sobre a infecção e as medidas de prevenção, assim como pela dificuldade da população geral em compreender as orientações das autoridades sanitárias.

Além das implicações psicológicas diretamente relacionadas à Covid-19, as medidas para contenção da pandemia também podem consistir em fatores de risco à saúde mental. Em revisão de literatura sobre a quarentena, há relatos que a medida apresenta efeitos como sintomas de estresse pós-traumático, confusão e raiva. As preocupações com a escassez de suprimentos e as perdas financeiras também acarretam prejuízos ao bem-estar psicológico. O período de distanciamento social traz desafios, novas formas de se relacionar, habilidades para o trabalho “home office” e a ressignificação da rotina diária.
Durante as pandemias, os profissionais da saúde costumam experienciar estressores como risco aumentado de ser infectado, adoecer e morrer; possibilidade de, inadvertidamente, infectar outras pessoas; sobrecarga e fadiga; exposição a mortes em larga escala; frustração por não conseguir salvar vidas, apesar dos esforços; ameaças e agressões propriamente ditas, perpetradas por pessoas que buscam atendimento e não podem ser acolhidas pela limitação de recursos; e afastamento da família e amigos.
Sobre a Covid-19, em particular, os desafios enfrentados pelos profissionais da saúde podem ser um gatilho para o desencadeamento ou a intensificação de sintomas de ansiedade, depressão e estresse, especialmente quando se trata daqueles que trabalham na chamada “linha de frente”, ou seja, em contato direto com pessoas que foram infectadas pelo vírus.
Analisados em conjunto, todos esses fatores remetem à relevância de intervenções psicológicas alinhadas às necessidades emergentes na atual situação da pandemia. Por isso, a importância de se compreender como as equipes dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) têm ofertado cuidado neste contexto. Neste sentido, o Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, realiza um trabalho junto às Regionais de Saúde para efetivar maior aproximação entre o Estado e os municípios, com o objetivo de uma construção conjunta de estratégias para o enfrentamento das situações desafiadoras para a saúde mental advindas da Covid-19.
Pensando no cuidado com a população e profissionais da Saúde, o Governo de Goiás criou a Central de Orientações sobre o coronavírus (Cori), que segue protocolos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Comitê Permanente Interagências para a Saúde Mental e Apoio em Situações de Emergência Humanitária (IASC). Os atendimentos são prestados via telefone ou chat online por uma equipe composta por médicos, psicólogos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, assistentes sociais, fonoaudiólogos, entre outros. O projeto estabeleceu três níveis de assistência para a população e um atendimento de saúde mental direcionado para trabalhadores da saúde que atendem casos de Covid-19.
Assim, é necessário estarmos atentos aos cuidados com a saúde física e emocional, o mal-estar psicológico fragiliza a capacidade de adaptação e reação ao confinamento. O atual cenário de potencial catástrofe em saúde mental só será devidamente conhecido depois de passado o período de pandemia. Portanto, esforços imediatos devem ser empregados, em todos os níveis e pelas mais diversas áreas de conhecimento, a fim de minimizar resultados ainda mais negativos na saúde mental da população. Cabe, enfim, investir em adequada assistência à saúde e, sobretudo, na ciência em geral, para que esse período seja abreviado e que os profissionais de saúde estejam capacitados para os desafios do cuidado.
Candice Rezende Castro e Macedo é superintendente de Saúde Mental e Populações Específicas da Secretaria de Estado da Saúde de Goiá