BBB22: a professora preta, goiana, que descarregou o choro de milhares de professores
Redação DM
Publicado em 7 de fevereiro de 2022 às 15:42 | Atualizado há 5 meses
A vida de um professor é pautada, a todo instante, no decreto coletivo segundo o qual ele tem o dever de ser inspiração para aqueles que o assistem. Na trajetória de vida de um educador, pode-se notar com veemência a maneira a partir da qual o mesmo é comparado a heróis, a seres irreais – que fragilizam e romantizam a pressão que um professor passa em sala de aula e fora dela. Temos, para nós, dedos apontados e perguntas retóricas sobre nossas condutas e nosso progresso.
Não. Eu não sou herói, eu não sou um super, tampouco um micro. Eu sou um profissional e, para além disso, sou humano como qualquer outro e tento ser o melhor profissional possível. Até o presente, ok! Porém, em que momento isso se enquadra à pressão que Jessi sofreu ao enfrentar esse duro e precoce paredão? Vamos em partes?
Sou jovem; professor e minha paixão pela educação chega a ser doentia. Há, dentro de mim, um desejo de mudança que me motiva a ser cada dia um novo professor. Diariamente procuro me transformar em inspiração e dentro de cada um desses dias eu me transformo centenas de vezes de acordo com o sonho de cada discente. Crio, alimento e recrio, paulatinamente, dentro de mim, um sonho insano de poder ver cada jovem e adolescente crescer e sonhar como eu pude fazer um dia.
Essa autocobrança surge, eminentemente, da obrigação que a sociedade impõe sobre um professor.

Logo, buscamos sempre corresponder a tudo isso e acreditamos eternamente que estamos sendo seres legais, amáveis e que inspiram multidões. Nessa perspectiva, quando uma professora, preta, interiorana, jovem – criativa e dinâmica como foi demonstrado -, se sente
ameaçada em um julgamento tão grandioso como esse, ali, para ela não está apenas a sua personalidade. Para um professor que passa por uma situação tão eminente como tal, o que está sendo julgado é a sua capacidade de se envolver com pessoas, a sua dinamicidade e, sobretudo, o seu potencial de inspiração. Sair nas primeiras semanas, para Jessi, seria dentro de si perder toda credibilidade de sonhar e fazer com que pessoas sonhem.
Sob essa ótica, precisamos repensar e discutir a saúde mental dos profissionais da educação. Além de educadores, administramos salas, desburocratizamos os sistemas de notas e avaliação, inspiramos, educamos e fazemos muito mais… O medo de Jessi tem a voz de milhares de professores que tanto acreditam em si e lutam para realizar sonhos. O choro de Jessi é o choro de milhares de professores que mesmo fazendo tanto, não são reconhecidos verdadeiramente como deviam. Tudo isso é o combo sombrio e temeroso de desmerecimento e rejeição devido ao qual ficamos aflitos a todo tempo. Reitero: não somos heróis e nem queremos esse título. Queremos apenas o reconhecimento legítimo da importância de nosso trabalho na construção da vida de qualquer pessoa.
Por fim, que a trajetória de Jessi no programa seja a trajetória de inspiração que tanto procuramos oferecer em sala de aula. Não me chamem de herói, pois heróis salvam vidas.
Enquanto isso, a nossa missão é fazer com que vidas não sejam, sequer, ameaçadas. Prazer, sou professor mas pode me chamar de inspirador.